terça-feira, 26 de junho de 2007

segunda-feira, 21 de maio de 2007

77ª Feira do Livro do Porto - 24 de maio a 10 de junho - pavilhão rosa mota


A História das Feiras do Livro em Portugal remonta aos anos 30 e, desde essa altura acompanha a história do país e dos portugueses, realizando-se anualmente em Lisboa e no Porto.
Por alturas do mês de Maio os portugueses aguardam pela abertura das Feiras onde aproveitam para conhecer as últimas novidades editoriais, encontrar livros, autores e comprar a melhores preços os seus livros.
O mercado editorial está em profunda mudança e as Feiras são também um reflexo do que aí se passa, bem como um reflexo das políticas nacionais e locais e das tendências da sociedade.

A organização das Feiras do livro, a cargo da APEL e da UEP, apresenta deste modo as Feiras do Livro 2007, com a convicção de que muito mais e melhor poderia ser feito mas também com a certeza de que fez todos os esforços no sentido de proporcionar ao público que visita as feiras, uma grande mostra do mercado livreiro e editorial português, e uma oportunidade de, durante cerca de 15 dias, usufruir de um espaço onde a cultura e a difusão do livro e da leitura podem ser encontradas num ambiente de festa e lazer, mas também de reflexão e debate.(...)

sexta-feira, 18 de maio de 2007

3ª "Festa na Baixa" do PORTO - 24 a 27 de maio


Uma centena e meia de eventos culturais assinalam, entre 24 e 27 deste mês, a terceira edição da "Festa na Baixa" do Porto - realizada pela primeira vez em 2003 e interrompida no ano passado. Durante quatro dias - de quarta a sábado -, um conjunto de entidades ligadas às artes e à cultura permitirão ao público visitar exposições, participar em itinerários culturais, aprofundar o conhecimento dos museus e teatros, assistir a espectáculos, colóquios, concertos e tertúlias.

XXX FITEI'07 - festival internacional de teatro e expressão ibérica - 24 de maio a 6 de junho

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Fazer a Festa, Festival Internacional de Teatro


O "Fazer a festa - Festival Internacional de Teatro" completa 25 edições, em 2006, realizadas anualmente, na cidade do Porto.

Ao longo dos anos, o Festival, o terceiro mais antigo de Portugal, já utilizou vários espaços da cidade, como o Teatro - Estúdio de Massarelos, Teatro Nacional S. João, Teatro Municipal do Rivoli, Auditório Nacional Carlos Alberto, outras salas de teatro, largos, jardins e ruas da cidade. Nos últimos anos o Festival decorre numa Aldeia Teatral montada nos Jardins do Palácio de Cristal e no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, contígua aos Jardins. Apresenta 30 companhias profissionais em 60 representações, durante 10 dias.

Objectivos

Sensibilizar públicos diversificados, especialmente os mais jovens.

Apresentação de espectáculos das mais importantes companhias e criadores portugueses, que possam ser apresentados em espaços não convencionais. Dar a conhecer espectáculos e companhias estrangeiras e criar laços artísticos e de amizade com o teatro e o público português.

Dar a conhecer o trabalho das companhias portugueses fora das áreas de Lisboa e Porto, das companhias espanholas, especialmente da Galiza e a apresentação de novos projectos, companhias e criadores. Fazer coincidir na mesma programação nomes consagrados e desconhecidos, num caleidoscópio de várias disciplinas teatrais.

Apresentação de um programa teatral especificamente dirigido às escolas.

Manifestações paralelas, como exposições, debates, boletins informativos, música e cine-vídeo.

Fazer do Teatro um espaço de Festa.

in site do teatro art'imagem

quarta-feira, 18 de abril de 2007

WORKSHOP: ACÇÃO-TEATRO (3 a 5 de Maio)

Oficina no âmbito do Curso Bietápico de Licenciatura em Animação Sociocultural
Disciplina de Dinâmica de Grupos
por Rui Pedro Borges e Jorge Alonso

Modelo de Dinâmica de Grupos, que assenta em pressupostos teóricos com origem nas Teorias de Campo e nas Teorias Sistémicas e que recorre a técnicas e metodologias originárias de diversas fontes.

Objectivos
.Contribuir para o ganho de consciência de si próprio e dos outros;
.Enriquecer competências de interacção social;
.Utilizar o processo de comunicação como factor impulsionador de mudança de comportamentos e de atitudes;
.Contribuir para a promoção de iniciativas comunitárias e de desenvolvimento local com finalidades diversas, por exemplo, no domínio da prevenção, da formação, da animação, da reabilitação e da criação de redes sociais, assim como de acções de integração social em campos diversificados como sejam: a saúde, a educação, a justiça, a igualdade de oportunidades e o próprio trabalho teatral.

Destinatários:
Estudantes e Profissionais “de trabalho com outros”
(p.ex.: Animadores, Professores, Actores, Sociólogos, Antropólogos, Psicólogos, Profissionais de Saúde, Educadores Sociais, Técnicos de Serviço Social, Gestores)

Datas/Duração
15 Horas: 3, 4 e 5 de Maio de 2007
5a-feira: 20h/24h
6a-feira: 18h/24h
Sáb.: 10h/19h

Nº mínimo de Inscrições: 12
Data Limite para inscrições: 02 de Maio de 2007
Local de Realização: ESAP / Largo de S. Domingos nº 80 – Porto

Preços:
Aunos da ESAP – € 20
Outros Alunos – € 25
Docentes da ESAP – € 40
Outros – € 50

Informações/ Inscrições:
Tesouraria da CESAP – Rua Infante D. Henrique, nº 131 - Porto
E-mail:
tesouraria@esap.pt
Tff: 223 392 100/30
www.esap.pt

segunda-feira, 26 de março de 2007

I congresso de animação, artes e terapías - Ponte de Lima - 19 a 21 de abril


Este evento tem por objectivos:
Fomentar o debate e a reflexão em torno de áreas temáticas de Animação como meio terapêutico, nomeadamente: Animação Sociocultural como terapia no âmbito dos diferentes escalões etários: Infância, Juventude, Adultos e Terceira Idade. A Animação e a terapia dos Tempos Livres: Animação e ócio, Animação Turística e a Animação terapêutica no contexto dos grupos com necessidade educativas especiais;
Reflectir os âmbitos profissionais e voluntários da Animação na dimensão das artes e terapias e projectar o aparecimento de novos âmbitos, fruto de uma sociedade em permanente mudança;
Projectar a Animação, as Artes e as Terapias como tecnologias educativas ao serviço de um desenvolvimento social, cultural e humano de forma harmoniosa e terapêutica;
Aprofundar os contributos da Animação e das Artes como terapias activas e preventivas no sentido de estimularem práticas participativas;
Promover uma profunda reflexão e um estudo resultante do cruzamento de terapias artísticas e terapias naturais e analisar a sua articulação com a Animação;
Potenciar o aparecimento de uma rede lusófona no campo da animação para intervir em diferentes âmbitos e modalidades, nomeadamente: Animação Sociocultural, Artes, Terapias, desenvolvimento social e comunitário, Animação Turística... .


O I Congresso de Animação, Artes e Terapias apresenta a seguinte metodologia:
Painéis Temáticos;
Relatos e Partilhas de Experiências de Animação, Artes e Terapias em diferentes contextos;
Edição de um livro de Animação Sociocultural (Coordenado pela organização das jornadas e assente nas intervenções dos conferencistas);
Feira do Livro de Animação, Artes e Terapias (venda de livros relacionados com Animação, Artes e Terapias, apresentação de novas edições e diálogo com os autores);
Mostra de Artes Terapêuticas (realização de espectáculos de cariz terapêutico).

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

CULTURA, CIÊNCIA E GLOBALIZAÇÃO












Cultura e ciência na época da globalização
Uma reflexão em 3 andamentos

Abertura
Uma intervenção «in» ou «moderna», deve começar com a expressão: «É assim». Depois, poderá dissertar-se sobre as mais variadas temáticas, mesmo sobre aquelas de que não possuímos o mínimo conhecimento. Basta intercalar um «pois» aqui, uns «portanto» mais à frente, e ir completando a «oração» com «bué» de interjeições e pausas que proporcionem a respiração mas que se aparentem com pequenas paragens nas quais, pretensamente, se ordenam ideias e se pensa.
Preferencialmente deve inverter-se a ordem do raciocínio, subverter-se a lógica da sintaxe, trair-se a semântica. Tudo isto, num caldo discursivo polvilhado q.b. de alusões ao sexo, à moda, ao «jet-oito» (mais «soft» que o «jet-set», «demodée», terminando invariavelmente numa conclusão interrogativa, ao jeito de «happy end», finalizando a frase de uma forma para-científica do tipo «tás a ver»?
É óbvio que as citações são também extremamente úteis e convém não esquecer mesmo a invocação de frases ou personagens dos «best-sellers» que estão nos «tops» de vendas dos «supermarchés». Mesmo que apenas se tenham lido as lombadas e apenas as lombadas ou — o menor dos males — a contracapa. É que os livros adquiridos nos «shoppings» são mesmo garantia de que os outros também os conhecem, pela capa ou pelo título. E, como não são para ler, mas tão só para emprenhar as estantes da sala de estar (hoje há muitos lares com estantes grávidas de fetos livrescos, de vários tamanhos entre as prateleiras, exactamente para permitir que lá se coloquem, bem visíveis, as lombadas dos livros, incluindo aqueles que mais se vendem nas épocas de ofertas natalícias e que habitualmente possuem encadernações luxuosas), como — dizíamos — os livros não são para ler mas para arrumar por alturas, por cores, por tipo de encadernação, podemos então citar ou afirmar o que quisermos sem corrermos o risco de sermos questionados, desmentidos e muito menos «entalados» por alguém.

Mas, para quem intervém, há que cuidar também da pose, do gesto, da roupa com que se apresenta. A imagem constitui, nos dias de hoje, o melhor cartão de visita, o currículo excelente que normalmente nos falta, a deusa que deve venerar-se de forma idolatrada e permanente.
O rosto deverá manter-se sério, numa postura sobranceira mas não tensa, tanto quanto possível indefinido e nunca espelhando emoções; a barba, nos homens, deve andar entre os três e os cinco dias, contrariamente ao rosto feminino que, obrigatoriamente, se assemelhará a uma máscara de cera e deverá estar completa e irrepreensivelmente depilado, embora possa — e deva — ser acompanhado por tons escuros de olheiras artificiais, a condizerem com o negro do verniz das unhas; o gesto deverá percorrer sinusóides oblíquas e deverá ser o mais andrógino possível; a roupa pode ser variada mas sempre de tons contrastantes; e a ganga não se exclui, desde que tenha, bem visível, a etiqueta de marca; mas cuidado com o xadrês, completamente proibido nas camisas ou nas blusas, pelas conotações esquerdizantes.
Poderíamos continuar, recorrendo ao vasto receituário da senhora Bobone. Mas para isso é suficiente e socialmente útil e correcto, ir ao «shopping» e adquirir o seu manual de boas-maneiras.
Sejamos, sobretudo, política e culturalmente correctos, o que significa, em bom português, sermos o inverso de nós mesmos e muito mais aquilo que os outros gostam de ver e nós gostaríamos de ser.

1º Andamento

Karl Marx afirmou que «é o homem que faz a religião, não é a religião que faz o homem».
Deixando de lado a religião diríamos, em paráfrase, que é o homem que faz a política, não é a política que faz o homem.
Continuando, chegaremos mais adiante concluindo: é o homem que faz a cultura, não é a cultura que faz o homem.
Vejamos, antes de mais, a questão da política.

Nos princípios do século XX, as Internacionais Socialistas dividiam-se em torno dos conceitos de social-democracia e o próprio Lénine integrava um partido social-democrata.
Mais tarde, a social-democracia passou a caracterizar a linha comunista mais aberta, menos radical, se assim se pode dizer, até chegar às décadas de 60 e 70, quando se etiquetou com a fórmula do «socialismo de rosto humano», por antítese ao socialismo de rosto feroz caricaturizado no ocidente por uma iconografia de tons cáusticos, com que se pintava a arte, a cultura, a sociedade e a política dos países que estavam dentro da «cortina de ferro». Aparece então outra espécie de sociais-democratas, assumindo uma postura mais reformista e mais liberalizante no que se reportava, essencialmente, às questões sociais e económicas.
Na varinha mágica da culinária política acabaram por cair as mais diversas tendências e a «politic soap» com que se entrou na década de 80 revelou-nos uma ementa variada: comunistas amarelo-avermelhados na longínqua China, abrindo já algumas gazuas para os cofres do capitalismo ocidental; comunistas em saldo no fim da estação da órbita soviética; socialistas da velha cepa republicana e laica em Itália, em França, em Espanha, em Portugal; sociais-democratas mais ou menos abertos e reformadores nos países nórdicos; liberais falsamente austeros, tradicionalistas e conservadores na velha Albion, com alternâncias e variações sucessivas sobre o mesmo tema no país dos cowboys; umas pitadas de sal e pimenta maoista espalhadas na terrina da velha Europa, completavam o caleidoscópio.
Escondidos em alguns partidos europeus (nos portugueses também) sem o saberem ou de forma consciente e voluntária, fósseis inquisidores, velhos fascistas e hitlerianos disfarçados, preparavam o terreno semeando uma geração de jovens neonazis, meticulosamente inseridos em formações partidárias com denominações aparentemente nacionalistas e patrióticas, carregando simbologias de triste memória e de medula intelectual profundamente xenófoba.
Assim nos despedimos do II Milénio depois de Cristo, atravessando a ponte para o III Milénio com o peso nada despiciendo do Passado, com a consciência mal tratada do Presente e com um fundado receio do Futuro.
Do lado de lá da ponte permanecem as marcas indeléveis de uma violenta guerra das trincheiras; de um êxodo de crueldade varrendo a Espanha em guerra civil; de um holocausto de 6 anos que a hidra hitlleriana espalhou pela Europa; de guerras de libertação em África, de Argélia a Joanesburgo, vitimando milhares, milhões de inocentes; de golpes e contra-golpes no continente americano; de revoluções e quedas de muros que se julgavam plenamente libertadoras.
Do lado de cá da ponte permanecem as cicatrizes, mas também as púrulas sangrentas dos excluídos, dos esfomeados, das vítimas das guerras, das fomes, da sida, do narcotráfico.
Visionámos apenas o ciclorama do século XX. Mas a história das mentalidades é uma história de grande duração caracterizada pelas mutações lentas, demasiado lentas.
Se em Política as coisas parece correrem demasiado depressa, o que nem sempre é verdade, como vimos, em termos do mental e do cultural tudo corre, de facto, bem mais devagar.

2º. Andamento
À primeira vista concordaríamos com alguém que nos afirmasse a ideia que hoje tudo se muda rapidamente, e de que nesse «tudo» estão incluídos os hábitos e os costumes das pessoas. Com efeito são bem visíveis as múltiplas mudanças e as gerações mais velhas recordam, comparando, os seus tempos com os de hoje, não raro destilando uma saudade verídica em relação a um «modus vivendi» bem mais repressivo, por contraste com a abertura e o facilitismo que hoje impregnam o viver das gentes jovens. Mas quererá isto significar uma verdadeira mudança cultural? Ou apenas assistimos a mutações superficiais e meramente conjunturais, sem atingirem, como seria desejável, a infra-estrutura do mental?
Um exemplo significativo poderá ver-se nas lutas travadas pela geração dos anos 60. Viveu-se então uma época de contestação generalizada às instituições, aos costumes, aos valores. Contestou-se o ensino; protestou-se nas universidades; barricaram-se grupos nas ruas contra as ditaduras e mesmo contra governos democráticos; fizeram-se marchas contra as guerras e contra o racismo; lutou-se nas matas e nas florestas em nome da liberdade dos povos; o vermelho era o tom generalizado da contestação; a boina sobre um cabelo farto, a camisa ao xadrês e as calças de ganga integravam a indumentária obrigatória dos jovens que se assumiam por inteiro como vanguarda da consciência da mudança necessária e inadiável. Ergueram-se as vozes contra todo o tipo de repressões, desde a repressão política à repressão sexual; caiu a venda dos soutiens e cresceu a dos preservativos em nome do «free love» e do poder da flor. Woodstock, Beatles, Cohn Bendit, Guevara, Gandhi, Martin Luther King constituíam os faróis que guiavam os «heróis» da década que hoje apelidamos de «loucos anos 60». Os «hippies» de então comandavam a moda. Mas cresceram, entretanto, ganharam barriga e filhos, começaram a usar gravata, entraram nos executivos das empresas e na gestão da política: transformaram-se em «yuppies». De vez em quando, desenterram ainda dos baús as velhas roupas, regressam à ganga, vão jantar fora com as esposas e depois dirigem-se ao concerto para rever um velho ídolo qualquer, tipo Bob Dylan, que teima em manter-se igual, mesmo que a voz e o corpo lhe preguem já traições sucessivas. Já não fumam o seu «charro», que trocaram entretanto por charutos caros; bebem agora whisky, ou «cuba-livre», e à noite, enquanto os filhos vão com os amigos dar uma volta, digerem o jantar no sofá, e para «esquecerem» a queda do «PSI 20» que lhes provoca calafrios, ligam o televisor para os «talk shows» ou programas «big qualquer coisa». Censuram as peripécias, mas mantêm-se colados ao écran.
O diálogo com os filhos não existe: são diferentes as linguagens? É verdade. Mas também é verdade que escasseia o tempo, a disposição, a motivação, o hábito. Existe, sobretudo, um tremendo défice de convívio familiar e, consequentemente, como os tempos correm céleres, há que viver desalmadamente, correr desenfreadamente, chegar primeiro (onde, não importa) para obter o privilégio que pode fugir-nos se o outro chegar eventualmente antes de nós. Como escreveu Toffler «doravante o mundo dividir-se-á entre rápidos e lentos».

3º. Andamento
Alteram-se os padrões de vida e com eles os interesses e as perspectivas. Mas que ganha com isto a Cultura?
Em entrevista ao jornal Público (7 de Maio de 2001), o físico francês Jean-Marc Lévy-Leblond mostrava-se muito crítico em relação aos avanços da ciência, negando mesmo que eles tivessem sido significativos no último meio século: «Nós nos apercebemos de que somos mais complicados do que pensávamos. Não fizemos, passados 50 anos, nenhum avanço gigantesco ou radical. (...) A ciência tem ganhado eficácia no plano da técnica, mas o mesmo não se pode dizer no plano intelectual». Jean-Marc fala sobretudo do divórcio entre a ciência e a cultura lembrando que «quando a ciência moderna nasceu, no século XVII, ela estava inserida na cultura (...) era parte integrante da cultura. Passados quatro séculos, houve uma autonomização da ciência, que acabou por separá-la da cultura». E, assumindo um preocupante pessimismo, conclui: «Não é de se espantar que, nos próximos 20, 30 ou 50 anos, a ciência, como a conhecemos nos últimos quatro séculos, já tenha desaparecido, dando lugar a uma espécie de tecnicismo. (...) e é possível que a nossa ciência esteja a morrer. A ciência é, por incrível que pareça, mortal».
Não serão preocupantes estes juízos do Professor da Universidade de Nice? E será que teremos de concluir que também a Cultura é mortal e pode, a breve trecho, transmutar-se em qualquer coisa de eminentemente técnica? Repare-se, por exemplo, nos apelos constantes de hoje para a leitura da informação na WEB. Estamos na era e na sociedade da Informação e o próprio Governo faz disso uma bandeira. Estamos de acordo. Mas preocupa-nos que o investimento em meios informáticos nas Escolas não tenha contrapartida igual para a aquisição de livros e de visitas de estudo. É que o ler e o ver são igualmente formas importantes de desenvolvimento cultural. E, por incrível que pareça, há ainda muitos professores a leccionar nas Escolas que não lêem, eles próprios, um só livro por ano nem para tal são estimulados.
É inegável que ao longo dos tempos foram mudando os padrões e os ideais de Cultura. E o Homem, na sua caminhada, reflecte bem essas variações de itinerário.
O Renascimento foi o tempo do Homo trilinguis; o século XVII ficou marcado pelo Homo mathematicus; há quem defenda a existência simultânea dos Iluministas com o Homo Libertinus; sem dúvida que o século XIX foi por excelência o do Homo Politicus. Que terá sido, então o século XX? O do Homo bellicus? E estaremos agora na era do Homo ciberneticus ou apenas numa mescla de tudo quanto nos antecedeu e em busca de uma definição, de um rumo que não lográmos ainda definir?

Provavelmente nunca como agora a Economia e a Política condicionaram tanto a Cultura. E se ao longo dos séculos essa foi uma constatação permanente, hoje ela surge-nos de forma declarada e mesmo descarada. A massificação da informação obedece a critérios quase exclusivamente económicos e políticos. Os «lobbys» políticos são condicionados pelos económicos e estes condicionam os culturais.
A liberdade é hoje uma reivindicação generalizada e em seu nome se defendem teorias e políticas que acabam muitas vezes — e em muitos casos — atentando contra algumas das liberdades mais elementares. Liberdade e liberalismo parece casarem muito bem, mas não será um casamento de conveniência? Como compatibilizar o progresso e a liberdade com a existência simultânea de regressões sociais, económicas, políticas e mesmo culturais?
«O cidadão típico de uma democracia liberal — escreveu Fukuyama
[1] — era um "último homem" que, instruído pelos fundadores do liberalismo moderno, trocou a crença orgulhosa na superioridade do seu próprio valor por uma autopreservação comodista. A democracia liberal produziu "homens sem coluna vertebral"; compostos de desejo e razão, mas sem thymos, suficientemente espertos para encontrarem novos processos de satisfazerem uma série de aspirações comezinhas, através da avaliação dos seus próprios interesses a longo prazo».
É o económico que explica as falências dos acordos interestaduais de preservação do ambiente; é o económico que motiva o político para a continuidade de conflitos e guerras localizadas; é o político que, numa atitude de subserviência ao económico, rejeita retirar dos orçamentos estatais 1% dos seus «PIBs» que permitiria resolver os problemas da fome e das epidemias que grassam ainda em tantos lugares do mundo e vitimam milhões de seres em constante migração à procura de migalhas de pão ou de míseros grãos de arroz. É o político que teme afrontar as multinacionais dos produtos farmacêuticos e permite que se mantenha em crescendo exponencial o número de portadores do vírus do HIV.
Em nome da globalização (que poderia e deveria estar ao serviço do Homem) cometem-se sucessivos atentados de marginalização de franjas populacionais imensas. E em seu nome traçam-se padrões económicos, modelos políticos e estereótipos culturais que percorrem o mundo à velocidade da luz, pela televisão, por satélite, pela Internet: assim se igualizam as pessoas, os seus hábitos, os seus costumes, com isso procurando igualmente igualar as suas necessidades, sem que paremos um pouco para reflectir se estaremos simultaneamente a proporcionar-lhes idênticas oportunidades de acesso aos bens essenciais. É por isso que tem razão Edgar Morin, quando escreveu que «um corpo complexo de normas, mitos e imagens que penetram o indivíduo na sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções»
[2].
Esta citação de Edgar Morin poderia perfeitamente ter sido escrita após o visionamento de mais um episódio do Big Brother, poderia ser o eco do clima gerado com os atentados do 11 de Setembro, de Madrid ou de Londres, talvez pudesse igualmente aplicar-se à constatação preocupada de quantos assitem à proliferação dos fundamentalismos de diverzas matizes que hoje percorrem o planeta. Milhões de pessoas são ofuscadas pelos programas ou espectáculos de massas, televisivos ou não; milhões se tornam «voyeurs» pelo simples gosto de, espreitando a intimidade alheia, se reverem no espelho das suas consciências pesadas; milhões partilham a ferocidade das «claques» e partilham julgamentos de comportamentos e desempenhos dos outros enquanto esquecem o ridículo das suas reacções; milhões choram e riem com o supérfluo, gritam, gesticulam, mas desviam o olhar dos verdadeiros problemas e dificuldades dos seres humanos, seus semelhantes, que nunca viram uma televisão, nunca falaram a um telefone, não possuem um relógio, desconhecem a própria idade, não conhecem os pais, não sabem por que e para que vivem, não encontram de comer e buscam mesmo, sequiosos, um mínimo de água para sobreviverem.
É este o mundo em que vivemos e é este o mundo de que me apetece falar aqui e agora.
Deveria, talvez, limitar-me a um optimismo «saudável» e mostrar uma credibilidade ingénua na marcha dos homens e dos políticos. Mas sou um inveterado pessimista, diria mesmo um irremediável incrédulo.
Mas deixem-me perguntar àqueles que ainda não deixaram de escrever, de pintar, de esculpir, de criar cinema ou espectáculos teatrais: estamos todos conscientes da motivação que nos leva a querer empurrar um gracioso e belo globo, quando visto do espaço, mas desordenado, feio e porco quando aqui em baixo por ele escorremos nossos passos e olhares? Será que aproveitamos as potencialidades com que nos dotou a Natureza apenas para darmos livre curso aos nossos mais íntimos instintos e gostos pessoais, à revelia de uma consciência que tem de ser social e humanista para ser verdadeiramente criadora?
Será que aqueles que se dedicam à obra de arte ou de reflexão cultural são ainda capazes de vestir a pele do Outro — daquele que não sabe quem é nem para onde vai — e, com a sua capacidade artística e criadora, ajudarem o Outro a reconhecer a sua própria identidade?
E, já agora, deixo aqui, de forma provocatória, algumas questões: que ciência, que cultura, pois, para o século XXI? Que Futuro estamos presentemente a construir? O Amanhã será a resultante do Hoje ou apenas uma «secante» que intersecta a esfera dos planos incognoscíveis dos senhores do mundo?

FERNANDO PEIXOTO
[1] Francis Fukuyama — O fim da História e o último homem. Lisboa: Gradiva, 1992, p.23.
[2] Edgar Morin — Cultura de Massas. p. 16-17.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Associativismo – viver a democracia cultural

Para que o papel das associações possa ser assumido de forma plena no século XXI torna-se necessário e imperioso que seja aprofundado o debate sobre os conceitos “democracia cultural” e “democratização da cultura”.
Antes do 25 de Abril ( muitos que viveram o associativismo nesse tempo sabem) o associativismo era, por vezes, uma “ilha de cidadania”, por vezes, a única brecha por onde, na verdade, se abria ao cidadão o acesso a um lugar onde podia participar, viver a democracia e promover dinâmicas desportivas, recreativas e culturais.O associativismo era, sem dúvida, um espaço, onde a criatividade, a vontade de fazer, era vivida de forma intensa e criadora. E foram feitas tantas coisas tão belas.Talvez, por essa razão, o regime vigiava e controlava a vida das associações. Quando, em alguma associação era promovida uma qualquer iniciativa que, de facto, não agradava ao regime, de imediato os dirigentes eram chamados e admoestados pela Polícia Política. Mas as associações mantiveram-se vivas, activas, sempre na procura de melhores condições para a comunidade e para os seus associados.
A diversificação de dinâmicas sociais
Após o 25 de Abril o associativismo continuou a ser esse espaço de afirmação da liberdade.Mas, então, novos problemas se colocaram na vida das associações.A diversificação de dinâmicas. A criação de novos espaços de afirmação da cidadania. A vida dos partidos políticos. As Comissões de Moradores. A vida sindical. As Comissões de Trabalhadores. As dinâmicas de um Poder Local actuante e mais perto dos cidadãos. O nascimento de novas e diversificadas associações – de jovens, de idosos.O associativismo começa a ter que lutar com os seus próprios meios para conseguir sobreviver, renovar-se e manter-se activo numa sociedade em profunda mudança.Manter as dinâmicas associativas implicava procurar encontrar respostas para os novos desafios. Modernizar. Renovar.Nem sempre existiu compreensão para os problemas emergentes. As associações tinham que lutar com os seus próprios meios, e encontrar resposta aos factores diversos com os quais tinha que concorrer : o vídeo, as parabólicas, os novos canais de televisão.Outro aspecto importante que afectou, de forma muito directa, a vida das associações e o desenvolvimento do seu papel nas comunidades, foi a contradição que se gerou entre os conceitos “democracia cultural” e “democratização cultural”, que costumo, por razões de proximidade, costumo identificar com o conceito de “municipalização cultural”.
Um cidadão actor na cidade Os desafios que se colocam nos tempos de hoje ao associativismo são diversos, mas o mais importante, reside nas suas capacidades de se afirmar como parceiro reconhecido e indispensável, nas estratégias de promoção da “democracia cultural”.A “democracia cultural” abre espaço à participação, à vivência da cidadania de forma activa. Um cidadão actor (como dirá Beja Santos – consumactor) .A “democratização cultural” reduz os cidadãos a meros consumidores de fenómenos culturais. Um cidadão consumidor.Este um debate que está por fazer e por ele, sem dúvida, vai passar a definição do papel do associativismo na construção da cidadania do século XXI.Ainda não é tarde…mas se este debate não for feito e aprofundado, talvez, no futuro, se lamente que os cidadãos fiquem indiferentes ao associativismo.
António Sousa Pereira

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

encontros alcultur : almada 2007


Os "Encontros AlCultur" assumem-se como espaço de encontros de diferentes pessoas, projectos e organizações da (e de) cultura, pretendem ser uma plataforma potenciadora de reflexão e debate, de aprendizagens e conhecimento, de inovação e criatividade, de novas ideias e projectos e da implementação de novas redes de cooperação, e constituem um recurso para o desenvolvimento local das cidades e regiões onde se realizam...


http://www.alcultur.org/